Tragédia lírica em um acto sobre textos de Jean Cocteau
Soprano: Sónia Alcobaça
Pianista: Helder Marques
Figurantes: Elisabete Fragoso, José Lourenço, Marie Mignot, Paula Conceição
Desenho de luz: Paulo Graça
Duração: 50’
“La voix humaine” foi apresentada no Centro de Arte Moderna
José de Azeredo Perdigão no dia 27 de Novembro de 2007
«(...) um personagem, o amor, e o acessório banal das peças
modernas, o telefone... por vezes, mais perigoso que o revólver».
Jean Cocteau
LA VOIX, voix, voie... qui raisonne, résonne, RÉSONNE «Aquilo que traz de novo a versão operática de"A Voz Humana" é que a música não se sobrepõe à obra escrita mas sublinha-a», afirmou Cocteau na estreia absoluta. Embora não exista qualquer registo, atrevo-me a afirmar que não terá escapado à sensibilidade poética de Cocteau e Poulenc outro aspecto radicalmente novo suscitado pela versão operática: um título, como “La Voix Humaine”, adquire outra força de evocação se associado a uma ópera… uma força – meta-operática – que impulsionou, desde cedo, o projecto de encenação que desenvolvi. Esta opção viu-se reforçada ao confrontar-me com “Le Bel Indifférent”, peça concebida por Cocteau após “La Voix Humaine” e que, do meu ponto de vista, assume os contornos de uma sequela (trata-se de um monólogo no qual uma mulher, cantora profissional, se dirige ao amante infiel; a actriz/cantora permanece ao telefone ao longo das páginas iniciais da peça e as suas primeiras palavras são uma citação de “La Voix Humaine”: «Allô… Allô…»). Esta perspectiva, para além de lançar nova luz sobre a personagem central, permite despoletar ressonâncias, catalizando, pois, um mecanismo de capital importância para cantores, encenadores e, claro, para um ‘encenador-cantor’. Equacionando estes aspectos, enveredei por uma mise en abyme de aplicação exclusiva à ópera de Poulenc - um ângulo de ataque impossível de aplicar à peça de Cocteau mas sustentado pela presença de música, como se impõe no contexto de um Curso de Encenação de Ópera.
José Lourenço
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