terça-feira, 29 de dezembro de 2009

VILLE DE BRON - Espace Albert Camus




NOUVEL AN A BROADWAY

DIMANCHE 3 JANVIER | 17 H 00

Concert du Nouvel An avec la Camerata du Rhône et l'Ensemble Darcos le dimanche 3 janvier à 17 heures à l'Espace Albert-Camus.

La formation à cordes de la Camerata du Rhône et l’Ensemble Darcos du Portugal ont choisi de se réunir autour d’un répertoire de chansons de Broadway des années 1930 à 1950. C’est l’occasion de mettre en relief une partie des compositeurs de musique savante et populaire de la même époque tels que Aaron Copland et Cole Porter. Nombre de leurs créations comptent parmi les plus célèbres du grand répertoire américain de la chanson et du jazz.
Durant ce spectaculaire concert du nouvel an, les deux formations se côtoient, tour à tour, puis se mélangent pour terminer avec les mélodies célèbres de Broadway, comme Night and day, You do something to me…

Soprano: Sónia Alcobaça
Barítono: Rui Baeta

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Haydn - Nelson Mass


20 de Dezembro, 16:30
Quarteira, Igreja S. Pedro do Mar

Franz Joseph Haydn (1732-1809)

Te Deum para a Imperatriz Maria Teresa
Missa in Angustiis (Nelson Mass), em Ré Menor

Orquestra do Algarve
Côro Ricercare

Maestro:
Osvaldo Ferreira

Solistas:
Sónia Alcobaça (Soprano)
Patrícia Quinta (Mezzo-Soprano)
João Cipriano (Tenor)
Diogo Oliveira (Barítono)

Entrada Livre

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Concerto com a Orquestra do Algarve


16 de Dezembro - 21:30
Faro, Universidade do Algarve



I Parte

Gioacchino Rossini (1792-1868)
Abertura de "A Italiana em Alger"

W.A.Mozart (1756-1791)
"Rapto do Serralho"
"Don Giovanni"
"Zaide"
"Flauta Mágica"

II Parte

Franz Joseph Haydn (1732-1809)

Sinfonia nº84 em Mi bemol Maior



Maestro:

Osvaldo Ferreira


Solistas:

Sónia Alcobaça (Soprano)
João Cipriano
(Tenor)


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Cantata para un silencio - Centro Cultural Olga Cadaval


Esta foi definitivamente a mais louca experiência Kamikazi de toda a minha vida. Preparar uma obra contemporânea, em estréia mundial, de 270 páginas, para dois pianos, côro e solistas, em menos de dois dias, é de loucos. E tudo por culpa de uma malvada apendicite que atacaria subitamente a minha querida Carla Simões, impedindo-a de se apresentar no dito concerto. A alternativa seria o cancelamento. Decidi então arriscar. É claro que não fiz mais nada a não ser repetir ininterruptamente cada frase tentando absorver tudo o que me fosse possível. Foi um autêntico salto para a corda bamba. Felizmente tudo correu bem, e é isso que importa. Apesar das circunstâncias, tive a sorte de poder interpretar uma obra maravilhosa. Rítmos latino-americanos em contínua mutação, textos literários belíssimos, com uma paleta de cores impressionante. Gostaria muito de, oportunamente, voltar a fazê-la. Além de desejar rápidas melhoras à Carla, quero também agradecer o incansável apoio de todos os intervenientes. A todos ... Parabéns e muito obrigada.

Compositor - Daniel Shvetz
Selecção e montagem de textos - Paula Ramos
direcção - Jorge Carvalho Alves
Coro Sinfónico Lisboa Cantat
Francisco Sassetti (piano)
Paul Timmermans (piano)
Sónia Alcobaça (soprano)
Fernando Guimarães (tenor)
Manuel Rebelo (barítono)

O texto que serve de base à obra é uma montagem da prosa e poesia de cinco autores latino-americanos e um português. Nasceu do desafio feito pelo compositor, Daniel Shvetz, à escritora argentina Paula Ramos. O cubano Alejo Carpentier e o seu El reino de este mundo e Los pasos perdidos revelam-nos, com uma abordagem barroquista, uma visão lírica das primeiras épocas a seguir à colonização da América Central; o peruano Cesar Vellejo, um dos maiores representantes da poesia hispano-americana, brinda-nos com a sua constante inspiração e com as mais belas sonoridades do castelhano; Padre António Vieira, um dos pais da portugalidade e de língua portuguesa, através de excertos do seu conhecido Sermão de Santo António aos Peixes, dirigindo-se-lhes como se eles fossem homens; Manuel Scorza e a sua descrição, em prosa poética, das revoltas dos camponeses nos anos sessenta, em Redoble por Rancas; Juan Rulfo, considerado pelo seu único romance Pedro Páramo, o maior dos romancistas em língua espanhola, descreve como ninguém o silêncio nas suas diferentes vertentes, a distância, a solidão, a saudade, a busca impossível do parente perdido; e, finalmente, Jorge Luis Borges e a sua refinada forma de encadear pensamentos de forma particularmente sintética e clara.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Críticas


John Allison - Opera

"(...) The plotting of Hagen (James Moellenhoff), Gunther (a powerful-voiced Michael Vier) and Gutrune (the soft-grained soprano Sónia Alcobaça) is vividly done, and Gunther and Gutrune are first discovered sharing a jacuzzi - adding yet another layer of incest to the tangled Ring relationships."

John Allison - Opernwelt

"(...) Die Intrigen von Hagen (James Moellenhoff), Gunther (mit kraftvoller Stimme: Michael Vier) und Gutrune (mit feinkörnigem Sopran: Sónia Alcobaça) kommen lebhaft, erregt. Dass man Gunther und Gutrune zunächst gemeinsam in einem Jacuzzi sieht, spinnt das Inzest-Motiv im «Ring» um eine Episode weiter."


Teresa Cascudo - Mundoclasico.com


"(...) En el lado oscuro, Michael Vier (Gunther), James Moellenhoff (Hagen), Johann Werner Prein (Alberich) y Sónia Alcobaça (Gutrune), fueron también magníficamente convincentes en el aspecto teatral y estuvieron en un buen nivel desde el punto de vista vocal. Por un lado, tuvimos a Moellenhoff, de voz oscura y gesto malvado, tanto como Prein, que es uno de los mejores artistas que han participado en este Anillo. Por otro, a los dos hermanos, de los que me cuesta no destacar a Sónia Alcobaça. Aunque no la conozco personalmente, poseo por la joven soprano portuguesa un especial cariño, que se debe a la valentía con la que está conduciendo su carrera. Esto tiene particular mérito en un medio como el portugués, pequeño y que no ofrece, por lo tanto, demasiadas oportunidades para desarrollar de forma coherente (y sin destrozarse la voz) una carrera tan específica como es la una cantante lírica. Se mueve bien en el registro de soprano lírico spinto. Es muy expresiva, con segura zona grave y timbre brillante, lo que le permite abordar papeles como el de Gutrune. Se resintió un poco del peso de la responsabilidad, lo que no es de extrañar teniendo en cuenta las escasas veces en las que el São Carlos abre sus puertas a cantantes portugueses asumiendo papeles tan relevantes."

Antônio Esteireiro - Opera Actual

"(...) Para los cantantes representaba sin duda un esfuerzo suplementario el ritmo alucinante de la dirección escénica, pero ello no impidió la excelencia de sus prestaciones. (...) Entre los demás solistas cabe destacar al barítono Johann Werner Prein (Alberich), el único que ha cubierto todo el ciclo, y el bajo James Moellenhoff (Hagen), con Michael Vier (Gunther), Sónia Alcobaça (Gutrune) y Maria Luisa de Freitas (Segunda Norna)."

Pedro Boléo - Público

"(...)Para além do extraordinário Prein, destaquem-se ainda as qualidades de Michael Vier (Gunther) e a consistência de James Moellenhoff (Hagen), bem como Sónia Alcobaça, que brilhou vocal e teatralmente no exigente papel de Gutrune."

Laurent - blog.parisbroadway.com

"Les chanteurs, malgré de petites faiblesses, sont globalement excellents. Leur implication au service de la conception du metteur en scène fait plaisir à voir."

ilpastorfido.blogspot.com

"Sónia Alcobaça (Gutrune) - Gostei muito de a ouvir, tem um timbre bonito, e fico feliz por ver uma portuguesa como seconda-donna num teatro que é monopolizado maioritariamente por estrangeiros."

Blog: Aurora luminosa

"Nas vozes, destaco James Moellenhoff (Hagen), pela sua solidez e segurança; e Gutrune (Sónia Alcobaça) de voz harmoniosa e bem timbrada."

Jorge Calado - Expresso

"Tive a oportunidade de assistir novamente (dia 18) a "Götterdämmerung", no São Carlos. Agora bem rodada, esta 4a récita foi uma revelação: o maestro Letonja conseguiu tirar o melhor rendimento duma orquestra transfigurada (em relação à estreia). Se juntarmos a recriação genial de Vick e uma Sónia Alcobaça (Gutrune) e um James Moellenhoff (Hagen) no seu melhor, temos uma gloriosa tarde de ópera! Confirma-se, uma vez mais, que os críticos não devem frequentar as estreias."

Facebook - Ana Cano

"Gostava de felicitá-la. Foi uma muito, muito feliz surpresa esta sua Gutrune! Gostei de conhecê-la, Sónia! - de ouvi-la (timbre tão agradável!), de vê-la (que expressividade!: tudo lhe passa pelos olhos!, pelas delicadas feições que, a cada momento, e tão perfeitamente!, tão exactamente!, tomam para si a expressão do sentir experimentado, do instante, mais do que representado, ali vivido...).
Parabéns!! Felicidades! E... obrigada, Sónia!!"


Artes & Espectáculos - "Crepúsculo dos Deuses" no São Carlos - RTP Noticias, Vídeo

Götterdämmerung: última récita pela Internet




Para quem não tenha tido oportunidade de vir ao Teatro São Carlos assistir ao desfecho do "Anel dos Nibelungos", convido a seguir a última récita em transmissão directa pela Internet, amanhã, dia 27 de Outubro pelas 18h, através do site www.saocarlos.pt. Além da Internet, o espectáculo será igualmente transmitido em ecrã gigante para o Largo do São Carlos.


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ópera no Teatro S. Luiz em 2010



OS MORTOS VIAJAM DE METRO
Auto dos Poetas Suicidas


Abril/2010

9, 10 e 11
Sexta e Sábado às 21H00
Domingo às 17H30

SALA PRINCIPAL

Estreia da ópera resultante da 2ª. edição do concurso Ópera em Criação.

Numa estação de metro abandonada, uma jovem suicida quer pôr termo à vida com um revólver. Tentou-o antes de várias formas, e por isso afastou os vivos daquele lugar, onde já não passam locomotivas. Ela é o fantasma de alguém que morreu no passado, mas não o sabe. O público também só o saberá depois do prelúdio, quando outras personagens começarem a acorrer àquele cais subterrâneo e inóspito, sem perceberem o que as atrai ali. São fantasmas de mulheres escritoras que morreram por suicídio: Florbela Espanca, Virginia Woolf, Sylvia Plath e Sarah Kane. Também a presença póstuma de Agatha Christie comparece, procurando desvendar a identidade enigmática da jovem suicida. Mas só depois de descoberto o nome daquela estação de metro desactivada, quase invisível numa das paredes, elas perceberão quem é a estranha jovem, esquecida de si mesma, que a todos assombra. Esta é uma ópera (com prelúdio e um acto) para seis cantoras que efabula, em séria e lírica paródia, sobre os laços que reúnem a criação poética e a pulsão de morte.


Música Hugo Ribeiro
Libreto Armando Nascimento Rosa
Encenação Paulo Matos

Interpretação:

Madalena Boléo
Margarida Marecos
Paula Dória
Sandra Medeiros
Raquel Alão
Sónia Alcobaça

Orquestra Sinfónica Portuguesa dirigida pelo Maestro João Paulo Santos

Co-Produção SLTM ~ TNSC

domingo, 19 de julho de 2009

Götterdämmerung em Outubro


GÖTTERDÄMMERUNG / O CREPÚSCULO DOS DEUSES
RICHARD WAGNER (1813-1883)

OUTUBRO

Dias 9, 12, 15, 21 e 27 às 18h00
Dias 18 e 24 às 15h00


FICHA TÉCNICA

Última jornada do Festival Cénico Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo).
Ópera com prólogo e três actos. Libreto de Richard Wagner.
Estreada em 1876 em Bayreuth (Bayreuth Festspielhaus), Alemanha.

Direcção Musical Marko Letonja
Encenação Graham Vick
Cenografia e Figurinos Timothy O’Brien
Movimentos Coreográficos Ron Howell
Desenho de Luz Giuseppe di Iorio
Orquestra Sinfónica Portuguesa
Coro do Teatro Nacional de São Carlos

Nova Produção TNSC

INTÉRPRETES

Siegfried Stefan Vinke
Gunther Michael Scheler
Hagen James Moellenhoff
Alberich Johann Werner Prein
Gutrune Sónia Alcobaça
Waltraute Christiane Heimsch
Brünnhilde Susan Bullock
Primeira Norn Katja Boost
Segunda Norn Maria Luísa Freitas
Terceira Norn Sara Andersson
Woglinde Chelsey Schill
Wellgunde Ana Franco
Flosshilde Luisa Francesconi


SINOPSE

Concebida como conclusão de O Anel do Nibelungo, a colossal tetralogia operática de Wagner, O Crepúsculo dos Deuses representa, no entanto, o núcleo a partir do qual o compositor desenvolveu a estrutura de todo o ciclo operático. Inicialmente denominada A Morte de Siegfried (Siegfrieds Tod) e só muito posteriormente alterada, pelo compositor, para a sua denominação definitiva, o primeiro esboço da obra e, consequentemente, de toda a Tetralogia data de 1848 e a sua conclusão dá-se apenas em 1874. A Tetralogia, em parte inspirada na estrutura da tragédia grega e no seu modelo de representação nos festivais religiosos da antiguidade, destinava-se a ser apresentada ao longo de um ciclo musical de quatro óperas distribuídas por quatro dias: O Ouro do Reno, um prólogo reservado para a primeira noite, como obra introdutória, e A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses que seriam levadas à cena nos três dias subsequentes. Efectivamente, a estreia da Tetralogia deu-se entre os dias 13 e 17 de Agosto de 1876, aquando da abertura do Festspielhaus de Bayreuth e por ocasião da qual foi encenada a versão integral do ciclo. Apesar das duas primeiras obras de O Anel do Nibelungo terem sido estreadas de forma isolada, anteriormente, as restantes foram apresentadas ao público apenas quando a Tetralogia foi concluída, obedecendo assim à intenção do compositor. O Crepúsculo dos Deuses representa o culminar de todo o ciclo operático. É a sua ópera de maior duração e simultaneamente aquela que revela uma maior maturidade e complexidade quer em termos de escrita musical (orquestral, harmónica e temática), quer em termos de encenação, tornando-se uma das obras mais exigentes de todo o repertório operático.

Texto: Tiago Cutileiro e Marta Navarro

segunda-feira, 22 de junho de 2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Jornal Público - "Uma ópera em construção"



Na produção de Let's Make an Opera!, que hoje se estreia na Gulbenkian, o ambiente doméstico oitocentista que deu origem à famosa ópera para crianças de Benjamin Britten é transportado para uma escola do século XXI.

Como se faz uma ópera? A pergunta é simples e breve, mas a resposta é longa e diverge por muitos caminhos. Mas é também fascinante, sobretudo quando podemos participar no processo. A ideia já estava implícita quando o grande compositor britânico Benjamin Britten (1913-1976) criou em 1949 Let's Make an Opera! - An Entertainment for Young People (Vamos fazer uma ópera! - Um entretenimento para jovens), uma obra com libreto de Eric Cozier que coloca em cena uma família cujas crianças, sem nada para fazer durante as férias, decidem montar uma ópera intitulada The Little Sweep (O Pequeno Limpa-Chaminés).

O actor e encenador Paulo Matos foi mais longe e realizou uma versão portuguesa com um novo texto teatral que coloca a acção inicial numa escola do século XXI. Integrado no projecto Descobrir - Programa Gulbenkian Educação para a Cultura, o espectáculo estreia hoje, às 20h00, no Grande Auditório Gulbenkian e ficará em cena até dia 30. A direcção musical é de Osvaldo Ferreira e o elenco envolve 37 crianças e jovens, além de vários cantores profissionais.

A maior parte das crianças gosta de desmontar os brinquedos para ver como são feitos. Em larga escala e num processo inverso, pois aqui trata-se de construir, há um paralelo dessa atitude nesta encenação. "O projecto original de Britten tem um cariz pedagógico e essa intenção mantém-se", disse Paulo Matos ao P2 no intervalo de um dos ensaios. "O ponto de partida é desnudar, desmontar e mostrar a maneira de construir um espectáculo destes, com o público a assistir a todas as etapas." O encenador, que já tinha concebido uma outra versão da peça no âmbito da Lisboa 94-Capital Europeia da Cultura, decidiu trocar o ambiente doméstico original e transportar a acção para uma escola do século XXI. "Britten não desenvolveu a ideia de modo inteiramente explícito, havia apenas uma intenção geral. Hoje, o lugar por excelência na sociedade onde o jovem tem possibilidades de desenvolver um projecto artístico interdisciplinar é a escola. Resolvi criar um ambiente escolar contemporâneo para o mal e para o bem, pois isso comporta um espectáculo muito trabalhoso e sempre à beira de algum caos. A maior parte da peça mostra trinta e muitas crianças a funcionar em turma e muitas vezes em algazarra."

O professor Ricardo

É dentro dessa escola que nasce a ideia de criar um projecto artístico que tem o contributo de todos os seus elementos (professores e alunos). "Até o maestro Osvaldo Ferreira vai participar!", diz Paulo Matos. "Ele é o professor Ricardo, o professor de Informática que estudou música que será convidado a ser o compositor da ópera." Não é a primeira vez que Osvaldo Ferreira pisa um palco como actor. "Já é a terceira vez que o Paulo me obriga! Começou com a História do Soldado, de Stravinsky, e na ópera O Empresário, de Mozart, fez um texto divertidíssimo para mim", diz o maestro. "Se ele continuar a oferecer-me emprego muitas vezes, um destes dias ainda troco a música pelo teatro!", ironiza.

Paulo Matos diz que quis transformar o espectáculo numa construção ao vivo. "Vemos formar-se o grupo da escrita, o grupo da composição, o grupo da investigação, os cenários começarem a aparecer, as paredes a rodar e a mostrar a outra face, martelam-se lareiras, provam-se figurinos, fazem-se ensaios musicais, até que, de repente, a ópera começa porque já está pronta."

A acção da ópera propriamente dita, O Limpa-Chaminés, é mantida no século XIX, levando assim os alunos a fazer pesquisa histórica. Esta conta-nos a história do pequeno Sam (João na versão portuguesa), um miúdo que é obrigado a trabalhar aos nove anos, depois de ter sido vendido pelo pai aos limpa-chaminés. Um dia fica preso na chaminé na casa de uma família (na versão original é a mesma família que vemos na primeira parte do espectáculo), que o ajuda a libertar-se de uma vida de escravidão.

No texto teatral que escreveu, Paulo Matos criou também um paralelo com esta situação. "Na pesquisa das razões dramatúrgicas pensei muitas vezes: como é que dentro de uma escola contemporânea se havia de criar uma história à volta de um limpa-chaminés? Então lembrei-me que podia surgir uma criança excluída da escola - como temos tantas; infelizmente, os últimos números indicam um alarmante abandono escolar no 9.º ano - e maltratada pela família." Uma noite, essa criança entra na escola talvez para roubar comida ou dormir num cantinho e fica presa nas condutas do ar. O encenador explica que a situação permite até construir uma cena de chamamento dentro da conduta com um trecho musical de Britten igual ao que se ouve depois na ópera, quando João fica preso na chaminé.

37 crianças

No que diz respeito à selecção dos intérpretes, o trabalho começou há vários meses, quando foi lançado o desafio às escolas de música de Lisboa. Das dezenas de crianças ouvidas em audição foram seleccionadas 37. Nos primeiros ensaios procedeu-se à escolha dos melhores protagonistas para a ópera e numa outra fase os maestros Victor Paiva (responsável pelo coro) e Osvaldo Ferreira iniciaram a preparação musical. Os participantes têm idades que oscilam entre os 8 e os 17 anos e para as personagens principais da ópera há três elencos. Os papéis dos adultos são feitos por cantores profissonais (Sónia Alcobaça, Maria Luísa de Freitas, Luísa Barriga, Luís Rodrigues, João Queirós, entre outros) e a componente instrumental é assegurada por jovens músicos, vários deles em início de carreira.

"Num projecto destes, sobretudo quando reconhecemos que há algum talento, é triste para algumas das crianças verem os outros fazer os papéis principais e eles não terem essa oportunidade. Daí que arranjámos espaço para três elencos", explica Osvaldo Ferreira. "É importante que todos sintam o que é estar em cima do palco e a dificuldade e responsabilidade que isso implica. Mas o mais importante no projecto não é o número de linhas que as crianças cantam ou o número de frases que dizem, mas a experiência." Osvaldo Ferreira elogia ainda a audácia de Paulo Matos na criação de uma parte teatral "muito complexa e trabalhosa", onde se correm "riscos enormes" devido à quantidade de pessoas em palco.

A peça de Britten prevê também momentos em que o público (crianças e adultos) se possa juntar ao coro da ópera e entoar algumas das canções. Os textos e partituras encontram-se disponíveis no site da Gulbenkian, mas no momento do espectáculo haverá oportunidade de as aprender. "Durante a parte teatral há um momento em que o professor já passou para a função de maestro e ensaia com o público as canções, cujas letras serão projectadas num ecrã", explica Paulo Matos. "Na minha outra experiência, em 94, nem todo o público cantou. Mas há sempre uma parte que traz as canções preparadas e outra que é contaminada na altura. Cria-se então um ambiente mágico. É a sensação de que cada um também faz parte do espectáculo."

Osvaldo Ferreira considera Let's Make an Opera uma "criação muito feliz" de Britten, compositor que dedicou uma importante parte da sua produção às crianças, jovens e músicos amadores. "As melodias e outros recursos chegam muito perto do imaginário das crianças. É, por exemplo, o caso da Canção do Marinheiro. A peça tem momentos muito divertidos mas também líricos no sentido mais terno, como a canção da noite. E as correrias e as pantomimas que servem de ligação entre as cenas têm até um pouquinho de linguagem cinematográfica."

O maestro refere que Britten fez questão de introduzir alguns ritmos mais difíceis com um intuito pedagógico, por exemplo passagens em compasso de cinco por quatro, com a intenção de obrigar os jovens a trabalhar ritmos que não são o tradicional quaternário ou ternário. Os solistas têm também os seus momentos de dificuldade. "Britten não quis dar tudo de mão beijada e procura desenvolver as capacidades musicais dos participantes. Eu tenho insistido para que eles façam tudo com o maior rigor, mas temos de ter a consciência de que não são profissionais. A intenção é fazer o melhor possível."

Também a instrumentação é muito original, incluindo quarteto de cordas, piano a quatro mãos e percussão. "Foi escolhida por razões práticas, já que é uma orquestra descartável bastante fácil de obter. A obra pode ser feita num auditório ou pequeno auditório ou mesmo numa sala pequenina sem fosso. Funciona muito bem, pois a música está muito bem escrita e a peça tem todos os condimentos para resultar num óptimo espectáculo."

Texto: Cristina Fernandes

in Jornal Público 19 de Junho de 2009

__________________________________________________

Traz a tua família, colegas e amigos e prepara-te para cantares connosco!





quinta-feira, 11 de junho de 2009

Fazer uma ópera numa escola do século XXI


Criado por Benjamin Britten, no final dos anos 40, o projecto Let’s Make an Opera (com libreto de Eric Crozier) propõe-se fazer da construção de uma ópera o próprio espectáculo. Originalmente, tal como foi concebido por Britten, o espectáculo apresenta na primeira parte uma peça de teatro habitada por uma família cujas crianças decidem construir uma ópera. Chamam-lhe The Little Sweep (O Pequeno Limpa-Chaminés) e a acção decorre no século XIX. Toda a primeira parte do espectáculo, ocupada pela escrita e pelos ensaios das crianças, é uma preparação do que vem a seguir, quando a ópera é então posta em cena. O libreto conta a história do pequeno Sam (João, na versão portuguesa), que é obrigado a trabalhar aos nove anos, vendido pelo pai aos limpa-chaminés e por eles explorado. O seu destino parece traçado até que um dia fica preso na chaminé da casa onde vive a família que conhecemos na primeira parte do espectáculo. As crianças descobrem Sam e resolvem libertá-lo de uma vida de escravidão. Dão-lhe banho, alimentam-no e ajudam-no a fugir.

Pode dizer-se que "Vamos Fazer uma Ópera – Um Entretenimento para Jovens", com estreia a 19 de Junho no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, é um espectáculo "completo". Tem teatro, tem música, tem ópera. No elenco tem crianças e adultos, tem solistas e coro, e mesmo o público é convidado a participar.

A nova versão portuguesa (com três actos) de
Let’s Make an Opera, embora fiel à ópera, integra um novo conceito: o encenador Paulo Matos, que já tinha montado este espectáculo nos anos 90, quis tornar a primeira parte muito mais abrangente e acentuar-lhe a importância. De uma casa particular, a acção passa para uma escola básica contemporânea, onde alunos e professores se propõem construir uma ópera. Mas Paulo Matos foi mais longe. "Procurei estabelecer um paralelo entre a primeira e a segunda parte do espectáculo, introduzindo na escola uma criança que também é vítima de exploração infantil, tal como o pequeno limpa-chaminés na ópera", explica o encenador. É assim que surge o João, um menor marginalizado, que se infiltra na escola com a intenção de roubar alguma coisa de valor o pai exige-lhe que leve dinheiro para casa, mas que ali procura também um lugar onde possa dormir e abrigar-se do frio. É descoberto pelos alunos da escola, que acabam por acolher com grande entusiasmo o novo colega. A sua salvação chega através de um projecto artístico que o integra na escola e que lhe dá a oportunidade de ser criativo e de brincar, com a mesma liberdade que têm as outras crianças. Vão construir uma ópera! No segundo acto, professores e alunos da turma de artes lançam mãos à obra, e envolvem-se num projecto escolar com todos os elementos essenciais de aprendizagem, onde não falta a investigação histórica que permite tecer uma narrativa do século XIX, com limpa-chaminés.
Para retratar a relação irreverente entre alunos e o ambiente de uma escola contemporânea, o encenador Paulo Matos acredita que é preciso utilizar uma linguagem actual, onde também cabe um vocabulário muitas vezes estranho aos adultos. Foi por isso que não abdicou de incluir nos diálogos da peça de teatro alguma linguagem vernacular, o calão. A pesquisa de expressões correntes entre os mais jovens fê-la com a ajuda dos seus filhos adolescentes, de 13 e 16 anos, e dos seus amigos, que criticam os aspectos que se afastam mais da realidade escolar. Paulo Matos salienta o bom resultado desta colaboração, através da reacção positiva das crianças seleccionadas para interpretar as personagens juvenis deste espectáculo: Na primeira reunião que tivemos, li com eles os textos e reconheceram-se imenso, diz o encenador com satisfação. No entanto, recusa qualquer aproximação à superficialidade e à forma de abordar as questões que caracterizam as séries de televisão dirigidas aos adolescentes: É preciso que daí nasça uma reflexão, o que não costuma acontecer nesse registo. Aqui estamos a desenhar uma alternativa, que é a escola construir um projecto artístico.

Na primeira parte do espectáculo, vemos o projecto escolar a nascer e a cada uma das personagens da primeira parte, alunos e professores, caberá um papel na ópera. Vamos assistir à organização e à estruturação desse projecto e depois a todas as fases de construção de um espectáculo: a criação de um libreto com os alunos (com o professor de Português), a composição da ópera (com o professor de Informática, que é o próprio maestro, Osvaldo Ferreira), a escolha dos solistas, a chegada dos músicos da orquestra, os primeiros ensaios musicais com o coro, a concepção dos cenários e dos figurinos (com a professora de Design), os primeiros desenhos e a sua construção. Há elementos de cenografia que serão finalizados em cena, revela o encenador. Até que finalmente tudo fica instalado e começa o verdadeiro espectáculo.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Opera Premium em Albufeira











"Depois da cerimónia de apresentação, deu-se início ao arranque oficial do ‘Albufeira Anima’, com um grandioso concerto de ópera. Algumas das óperas de maior sucesso da história –‘Rigolletto’, ‘La Bohéme’ ou ‘O Barbeiro de Sevilha’ foram apresentadas no espectáculo ‘Ópera Premium’, no Largo dos Paços do Concelho. Os maiores compositores mundiais fizeram-se ouvir através das vozes de Mário Alves, Luís Rodrigues e Sónia Alcobaça, expoentes máximos da ópera portuguesa. A acompanhá-los esteve a Orquestra do Norte, dirigida pelo maestro Ferreira Lobo. No final do espectáculo, a plateia, de pé, evidenciou o seu agrado pelo excelente serão, passado ao som de um dos géneros artísticos mais completos."

in Algarve Digital

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Albufeira Anima abre com Ópera Premium



O programa Albufeira Anima arranca com concerto de luxo. No dia 6 de Junho, o Largo dos Paços do Concelho vai acolher, pelas 22H00 a exibição da Ópera Premium. Um espectáculo musical a cargo da Orquestra do Norte com a interpretação de algumas das maiores óperas de sucesso internacional.
O público vai poder assistir a excertos de famosas óperas de alguns dos mais notáveis compositores. Um espectáculo acompanhado pela voz de Sónia Alcobaça (soprano), Luís Rodrigues (barítono) e Mário Alves (tenor).
Este é um concerto que irá oferecer à assistência extractos de O Barbeiro de Sevilha, do compositor Gioachino Rossini e da conceituada La Bohème, de Giacomo Puccini. Uma noite diferente marcada também pela interpretação de excertos de Rigoletto, do compositor italiano Giuseppe Verdi e Don Giovanni de Wolfgang Amadeus Mozart.


in Canal do Sul

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Ópera Infantil na Gulbenkian

Ópera de Benjamin Britten - "The little Sweep"
Peça de teatro escrita por: Paulo Matos
Direcção Cénica: Paulo Matos
Direcção Musical: Osvaldo Ferreira
Cantores adultos: Sónia Alcobaça / Maria Luísa de Freitas / João Miguel Queirós / Luís Rodrigues
Actor: Diogo Mesquita
Tradução da ópera para português: Alexandre Delgado
Maestro do elenco juvenil: Vítor Paiva
Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian
19,26,30 de Junho e 1 de Julho 20h
20,21,27 e 28 de Junho 16h
23 e 24 de Junho 15h

domingo, 12 de abril de 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009

domingo, 5 de abril de 2009

Portfólio: Recital de Sesimbra


"Vissi d'arte" Tosca/Puccini



"Qual fiamma avea nel guardo" - Nedda/Leoncavallo



"Quando m'en vo" - Musetta/Puccini

Após várias tentativas frustradas para conseguir endireitar as imagens decidi editá-las mesmo assim. São três árias do recital de Sesimbra, que o meu querido Luis Pereira teve a amabilidade de registar. Apesar da reverberação da Igreja e da fraca qualidade dos microfones do telemóvel, ainda assim dá para apreciar um pouco do que foi este serão em torno de Puccini.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Programa do Recital de Sesimbra

PUCCINI E O SEU TEMPO

GIACOMO PUCCINI (1858-1924)
"Donde lieta uscì" (Mimi - La Bohème)
"Signore, ascolta!" (Liù - Turandot)

PIETRO MASCAGNI (1863-1845)
Intermezzo (Cavalleria Rusticana)

GIACOMO PUCCINI
"Chi il bel sogno di Doretta" (Magda - La Rondine)
"Un bel dì vedremo" (Cio-cio San - Madama Butterfly)

___________________

GIACOMO PUCCINI
"Si. Mi chiamano Mimì" (Mimi - La Bohème)
Prelúdio (Tosca)
"Vissi d'arte" (Tosca)

JULES MASSENET (1842-1912)
Aragonaise (Le Cid)

RUGGERO LEONCAVALLO (1857-1919)
"Qual fiamma avea nel guardo!" (Nedda - I Pagliacci)


Encore:

"Quando me'n vo" (Musetta - La Bohème/Puccini)

"Pace, pace" (Leonora - La Forza del Destino/Verdi)

27 de Março de 2009 às 22h
Igreja de Nossa Senhora da Consolação do Castelo
Sesimbra

sábado, 21 de março de 2009

Portfólio: "Metanoite" de João Madureira



Metanoite


29 e 30 de Junho de 2007 / Grande Auditório da F.C.Gulbenkian


Sobre esta ópera escreveu o compositor João Madureira :

”Metanoite é uma ópera que reflecte sobre o estado do mundo neste microclima que é o meio artístico erudito nos nossos dias – as suas contradições, surpresas e perplexidades. E é também uma reflexão sobre o modo como pensamos e sobre a própria linguagem que usamos e que a nós nos usa.”

Composição: João Madureira

Libreto: a partir de “O Senhor dos Herbais” e outros livros de Maria Gabriela Llansol

Adaptação: João Barrento

Direcção musical: Cesário Costa

Encenação: André e. Teodósio em parceria com Catarina Campino e Javier Núñez Gasco

Desenho de luz: Cristina Piedade

Pianista correpetidor: Pedro Vieira de Almeida

OrchestrUtopica


Cantores:

Sónia Alcobaça (soprano),

Sílvia Filipe (meio-soprano),

Mário Redondo (barítono);


Actores: André e. Teodósio, Catarina Campino, Javier Núñez Gasco, Maria João Machado, Mónica Garnel, Paula Sá Nogueira


Banda convidada: METANOITE (André Campino, André Prata, Hugo Cruz, Paulo Gonçalves).

Espectáculo para maiores de 12 anos.

domingo, 8 de março de 2009

Petite Messe Solennelle - Rossini

Auditório Municipal do Seixal

9 de Abril (Quinta-feira Santa) - 21:30


Sónia Alcobaça (soprano)
Susana Teixeira (meio-soprano)
Marco Alves dos Santos (tenor)
Manuel Pedro Nunes (barítono)

Luís Almeida (direcção musical)
Tatiana Balyuk (piano)
Andrea Fernandes (harmonio)

Ensemble Vocal Capella Mundi

M/6 anos
Bilhetes: 10,00€

quarta-feira, 4 de março de 2009

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Foyer Aberto - O São Carlos no século XIX



Concertos ao fim de tarde (18h00):


10. MARÇO


DEPOIS DA GUERRA CIVIL - O REPERTÓRIO ITALIANO

Piano: João Paulo Santos
Comentários: Luísa Cymbron

Soprano: Sónia Alcobaça
Meio-soprano: Maria Luísa de Freitas
Barítono: Luís Rodrigues


________________________________________________
Programa

GAETANO DONIZETTI
"Apri il ciglio" - Duetto Eleonora, Cardenio (Il Furioso nell'isola di San Domingo)
"Cupa, fatal mestizia" - Cavatina Maria (Maria di Rohan)
GIUSEPPE VERDI
"Oh, de' verd'anni miei" - Aria Carlo (Ernani)
VINCENZO BELLINI
"Qui la voce sua soave" - Cantabile Elvira (I Puritani)
SAVERIO MERCADANTE
"Cielo di grazia" - Duetto Violetta, Teodora (Il Bravo)
FRANCISCO XAVIER MIGONE
"Al consorte svela il core" - Preghiera Vanina (Sampiero)
ERRICO PETRELLA
"Fra danze oscene ed orgie" - Duetto e Terzetto Jone, Nidia, Arbace (Jone)
CARLOS GOMES
"Giovinetta, nello sguardo" - Duettino Cecilia, Cacico (Il Guarany)
GIOVANNI PACINI
"Al seno mi stringi" - Terzetto Saffo, Climene, Alcandro (Saffo)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Recital na Gulbenkian










Para quem não pôde estar presente deixo alguns momentos gravados pela Antena 2 para futura transmissão.



Recital no Auditório 2 da FCG


Entre França e Espanha

Sónia Alcobaça apresenta-se no ciclo Novos Intérpretes com mélodie e canción.

Terça, 10 Fev 2009, 19:00 - Auditório Dois

A mélodie nasceu da junção de dois elementos fundamentais. Por um lado, pode ser vista como a consequência do impacto que os Lieder de Schubert tiveram sobre a prática vocal francesa, que até à década de 30 do século XIX é dominada pela romance. Por outro lado, desenvolveu-se acompanhando as novidades estilísticas e estéticas que foram sendo introduzidas pelos poetas franceses ao longo do século XIX e durante as primeiras décadas do século XX.Género artístico subtil e sofisticado como nenhum outro, a mélodie teve, no momento entre as duas Guerras, um dos seus períodos áureos. Paralelamente, enquanto Paris guardou o seu estatuto de capital cultural europeia, influenciou também a música vocal de compositores cuja origem não era francesa, mas que fizeram daquela a sua cidade de eleição. Ambos os elementos reflectem-se no fascinante programa que será interpretado neste recital.O concerto mostra, através das obras escolhidas, a variedade dos universos poéticos e musicais que a mélodie, como género, pode chegar a expressar, assim como a sua frutífera influência na canción lírica de cinco compositores que, apesar de serem espanhóis, sempre mantiveram ligações com a cultura francesa. A acertada selecção, que inclui composições de Falla, Granados, Honneger, Milhaud, Poulenc e, ainda, três canções de café-concerto da autoria de Satie, foi especialmente concebida para valorizar a magnífica voz e o talento dramático da jovem soprano Sónia Alcobaça, que se apresentará no âmbito do Ciclo Novos Intérpretes da Temporada Gulbenkian de Música, e a sensibilidade a que nos tem acostumado o pianista João Paulo Santos.

Serviço de Música da FCG
02 Fevereiro 2009

_______________________________


Espanhóis e franceses por Sónia Alcobaça

Com Sónia Alcobaça (Soprano) e João Paulo Santos (Piano)


Obras de Albéniz, Falla, Turina, Granados, Halffter, Durey, Milhaud, Honegger, Tailleferre e Satie.

Para o seu primeiro recital a solo na Gulbenkian, no âmbito do ciclo Novos Intérpretes, a soprano Sónia Alcobaça escolheu, com o pianista João Paulo Santos, um interessante programa, que se centra em compositores franceses e espanhóis, a maior parte deles activos no período entre as duas Guerras Mundiais.

Canções escritas pelos membros do chamado Grupo dos Seis (nome que lhe foi atribuído pelo crítico Henri Collet em 1923) - Durey, Milhaud, Auric, Honegger, Poulenc, Tailleferre - e do seu mentor Erik Satie combinam-se com páginas de Albéniz, Granados, Falla, Turina e Halffter. Se o exotismo da música espanhola fascinou os compositores franceses do princípio do século XX, o ambiente parisiense e as correntes do Impressionismo e do Neoclassicismo francês foram igualmente marcantes para os compositores ibéricos.

Sónia Alcobaça tem-se distinguido entre a nova geração de cantores portugueses pelo seu timbre cintilante e por óptimas qualidades musicais. Estudou na Escola Superior de Música de Lisboa com Joana Silva, trabalhando actualmente com Elena Dumitrescu-Nentwig. Já interpretou vários papéis do repertório lírico em obras de Donizetti, Bizet, Britten, Milhaud, Honegger, Falla e Pinho Vargas) e tem actuado com vários agrupamentos, entre os quais a Orquestra Sinfónica Portuguesa, a Orquestra do Algarve, a Orchestrutópica e o Ensemble Barroco do Chiado.

Cristina Fernandes

Público, 06 de Fevereiro, 2009

sábado, 3 de janeiro de 2009

Outro Fim - Mais uma crítica



Jornal Expresso / Revista Actual
03/01/2009


Texto de Jorge Calado

"No fim é que está o começo


Estreou «Outro Fim», a ópera de Vieira Mendes e Pinho Vargas que marca o fim do ano musical.

TARDOU mas arrecadou. O pretexto duma boa ópera é um bom libreto, e este surgiu há cinco anos, quando a Culturgest encomendou a José Maria Vieira Mendes o texto para uma jovem ópera de câmara. Não pegou logo, mas há males que vêm por bem. O compositor certo - António Pinho Vargas (APV) - acabaria por o encontrar, num feliz caso de serendipidade. Outro Fim é um libreto inteligente, misterioso, económico e eminentemente cantável. Que um dramaturgo português, sem prática de ópera, seja capaz de produzir uma obra-prima é caso para embandeirar em arco. Quando, finalmente, se ouve tal texto a pulsar e a viver através duma música de altíssima qualidade e de uma encenação estimulante (embora, às vezes, problemática), estamos a assistir a um milagre.


De que trata Outro Fim ? Do desejo de sobrevivermos sendo outros, que é, afinal, o tema da própria ficção teatral. O autor desdobra-se nos seus personagens e permite ao intérprete fazer o mesmo. Eu sou vários, e nesta vontade de me unir ao outro acabo por ser um só. No caso de Outro Fim, a alteridade e ambivalência funcionam porque estão muito bem estruturadas dramaticamente, no espaço e no tempo. Cinco personagens (Mãe, Mulher, Homem, Irmão e Cunhada) em três lugares (casa da Mulher e Mãe, café e casa do Irmão e Cunhada), ao longo das quatro estações do ano. Um pentagrama social habita uma tríade espacial durante a quadratura do ano. Com o triângulo, o quadrado e o rectângulo é possível formar os cinco poliedros platónicos; 3, 4 e 5 (cuja soma é 12) são também a base pitagórica de muita boa música. A trama é simples: Homem e Mulher apaixonam-se. Irmão (do Homem) e Cunhada esperam o primeiro filho. Homem foge (motivos políticos?), mas envia cartas à Mulher através do Irmão. Irmão apaixona-se pela Mulher. Homem regressa. Irmão mata Homem e Cunhada (que é a sua mulher). A Mãe volta ao princípio e tudo pode recomeçar. Será que o fim será igual?


Como os personagens não têm nomes, o Irmão pode usurpar o lugar do Homem, tanto mais que a Mulher é escritora (de cartas, entre outras ficções). (Vieira Mendes reconhece a importância da cena de Persona, de Ingmar Bergman, em que os rostos de duas mulheres - personagens?, actrizes?, amantes do realizador? - se sobrepõem.) Quanto à Mãe, é a pitonisa das tragédias gregas. Procura decifrar as formas - nuvem, árvore ou rosto (contornos e sombras na caverna de Platão?) - e abre e fecha Outro Fim recitando as mesmas palavras: «sombra ou um rosto», o princípio de toda a ficção. Por outras palavras, no fim está o começo (o que não significa que o próximo fim seja o mesmo). Este é um libreto sobre a invenção literária e a criação artística em geral. Onde está a realidade? Como diz a Mãe, «A minha filha foge/para dentro de um caderno/vive numa página/mergulha no papel.» Quando tudo fica dito nesta estória acelerada, os personagens reduzem-se a um - o escritor (e compositor).


Pinho Vargas é um músico que cultiva a heteronímia. Além de ensaísta notável, é um homem do jazz e um clássico contemporâneo, com produção variada de grande qualidade (Outro Fim é a sua quarta ópera). O encontro dum dramaturgo e dum compositor atraídos pela alteridade funciona magnificamente. À divisão (ou multiplicação) dos eus segue-se a síntese, por exemplo, na união do casal: «Tu és meu.../Eu sou tu», cantam a Mulher e o Homem; ou as simetrias do «Ai, matei! Ai, morri!», do Homem. Pinho Vargas não segue rumos fundamentalistas; bebe onde melhor entende. Há uma grande liberdade composicional - até na divisão orquestral. As cenas no café adquirem um «beat» vital graças aos vários «combos» que APV traz para o palco (cordas, mas também clarinete/oboé, pianoforte e percussão). De resto, os seus objectos e «gestos» musicais são isomorfos dos ritmos do libreto, das suas rimas e repetições. O texto presta-se a ariosos (por exemplo, o «Todos os dias como criança», da Mulher, ou o «Perco a vista», do Homem, com violino «obbligato»), e até a um belíssimo, comovente dueto de amor entre o Homem e a Mulher (que ocorre no Outono). Tudo, na partitura, é bem pensado, até os interlúdios gestuais de notas líquidas no piano (o seu instrumento). A amplificação (discreta) justifica-se pela acústica da sala.


André E. Teodósio, responsável pela encenação e espaço cénico (em parceria com Vasco Araújo), abriu cinematicamente a montagem anulando as fronteiras entre cenas. A fluidez teatral é parte integrante da inevitabilidade dramática. Os intérpretes deambulam pelos bastidores (por exemplo, para fumar um cigarro ou beber um copo) ou improvisam uns passos de dança ao som contagiante da música. Assim se reforçam os vários eus. Há os personagens que, por acaso, são interpretados por actores que são pessoas que escolheram ser cantores (sem esquecer que, nesta ópera, os instrumentos são também «dramatis personae»). Todos pirandelliamente à procura dum sentido para Outro Fim. Há um simpático ambiente artesanal (a pistola que nem sequer é de papel, mas no papel), embora Teodósio ignore deliberadamente várias indicações do dramaturgo e introduza alguns postiços desnecessários. Gostei dos figurinos de Mariana de Sá Nogueira (repararam nos sapatos?).


O espectáculo contou com cinco excelentes cantores, bem dirigidos pelo encenador. Julgo que APV compôs a ópera para «estes» cantores - e isso nota-se. O facto de Larissa Savchenko (Mãe) acusar uma certa usura vocal não comprometeu a eficácia da representação. Luís Rodrigues (Homem), que é hoje um veterano das óperas de Pinho Vargas (criou o Édipo, a Tragédia de Saber, em 1996), foi primoroso, e a voz cheia e rica de matizes de Sónia Alcobaça (Mulher) operou maravilhas. Coube-lhes o momento alto da partitura - o encanto do dueto de amor, justamente abençoado pela Mãe com uma chuva de ouropel. Mário Alves e Madalena Boléo formaram um casal impecável. Prestação virtuosística de elementos da Orquestra Sinfónica Portuguesa. Apresentada em co-produção com o São Carlos, Outro Fim constitui uma homenagem ao saudoso Manuel José Vaz, primeiro presidente da Culturgest e antigo administrador do São Carlos, iniciador deste projecto.


A frustração maior é não conseguir ouvir novamente Outro Fim (assisti à segunda e última representação), até porque só quando cheguei ao fim do espectáculo é que entendi o seu início, 90 minutos antes. Sem partitura nem gravação à vista, fico-me com a fruição sensível duma obra-prima, sem possibilidade de confirmação (ou refutação) racional. Este é outro drama da criação contemporânea - aquilo a que APV chama produção «site-specific». É verdade que era assim que Händel trabalhava (o que lhe permitia reciclar o material), mas as circunstâncias eram outras. Será que a Casa da Música, o Teatro São João ou o CCB se aventuram a quebrar o enguiço do «site-specific»? Se a música fosse comisserável, com as concomitantes ligações perigosas entre arte e dinheiro - como acontece nas artes plásticas -, há muito que o problema estaria resolvido..."